Thursday, July 31, 2008

Numa Pele Alheia...

- Esse Diogo é aquele teu amigo preto, não é? – pergunta-me o Marco Paulo em resposta á minha resposta da pergunta dele de porquê não querer nunca mais meter substâncias alucinógenas na carola... Eu baloiço vagarosamente a cabeça, em sinal de concordância, indeciso porém, se a palavra ‘preto’ ter sido proferida em tom pejorativo ou apenas ser uma constatação de um facto. Parece-me a porta numero um... Mas num sentido lato e não como uma afronta directa ao indivíduo em questão, mais num estilo ‘não-gosto-de-pretos-mas- não-tenho-nada-contra-esse-gajo’, por isso caguei para os preconceitos do subconsciente deste cabrão... Nem me diz nada... É só mais um tipo que me conhece e sabe o meu nome... Eu só sei que ele tem dois amores e uma cabeleira bem estilosa... E por isso não me vou dar ao trabalho de lhe explicar que o Diogo teve uma ideia brilhante, quando, num belo dia, e sob forte influência de ácidos: entra na casa do vizinho no 10° andar e ao ser apanhado com a mão na massa, tenta fugir Homem Aranha style... Aparentemente não resultou...

Há duas Tuborgs atrás, quando ainda estava com uma pedra industrial monstra, não consegui fazer mais nada que não fosse rir-me á parva quando o Russo me relatava a ocorrência: Atão parece que o gajo se matou, ó caralho!!! Não sabias???
Eu não sabia era se me havia de rir da ideia do Fanã se ter suicidado ou se do facto de ter ido roubar a casa do vizinho... Ele continua: Ya, o gajo entrou lá e depois foi apanhado e amandou-se ó caralho!!!
Hahahahaha... Isso faz muito sentido...NOT! Possivelmente o que aconteceu foi que se tu juntares certos ingredientes na cabeça de um gajo, só pode dar merda, senão vejamos: cabeção cheinho de LSD e Branca ( o que lhe conferia superpoderes como a invencibilidade e capacidade de voo)? Check! Real necessidade de uns trocos? Más companhias? Ausência de um grilinho que lhe dissesse, olha lá ó palhaço, achas que faz sentido roubar o teu vizinho? Hum? Fazeres merda ao pé de casa? E ainda por cima a tripar? Check! Check! Check!

Mas nesta altura do campeonato eu estava com mais atenção á musica que passava no Straight-Up, um bar de rockabilies em Massamá Norte: We care a lot dos Faith no More... uma batida só batida pelo We will rock you dos Queen. Sem hipótese. Só um Alto Som consegue apagar o facto que os Queen tinham um vocalista acabadinho de sair de um clip dos Village People e os projecta para o Panteão de Deuses do Rock’n Roll. Um Som do tipo World Class. E a seguir vai passar o One dos Metallica, Even flow dos Pearl Jam, Black hole sun dos Soudgarden, Smells like teen spirit dos Nirvana, depois umas baladas de James, White Snake e U2 para depois endurecer novamente com Megadeth, Pantera e Rage Against The Machine. Repertório maningue nice, mas com uma moca diabólica de barts e duffys não caía lá muito bem... Mais a noticia do Fanã. Mais uns whiskies. E umas cervejas. Tudo junto sufocava-me, por isso resolvi apanhar um ar fresco... Talvez fumar uma... Levanto-me e saio. Amanhã vão me dizer que sai a cambalear e a dar chapadas nos costacios de bacanos que ainda não conhecia. Sento-me nuns degraus ao pé de um gajo que me parece uma espécie de vampiro anão tripalhoco. - Tás mesmo aí? – pergunto. – Trim, trim, as nuvens pastam... – responde. - Tu não existes mano, baza daqui caralho! – replico, esfregando a cara. Ele faz que não me ouve e vomita, fazendo pontaria para os meus nike cinzento-claros. – Epá atão daí um filtro! – digo, agora convencido da sua densidade. Outra figura aproxima-se, subindo as escadas e estanca a uns respeitosos 5 centímetros de mim. Só lhe vejo as pernas. São peludas. Do tipo urso pardo. Aparentemente estou a bloquear-lhe a passagem e sinto um contacto na minha perna e oiço palavras agressivas lançadas em direcção do vampiro anão do tipo: Posso passar faixavor? Digo-lhe: Tens ai mortalhas? Ou isso? Ele não responde. Ao meu lado está também um careca mexicano nu e completamente tatuado que me pisca o olho, sussurrando-me: Mi corazon... Mi querido... Ti quiero... ; mas ele não tem olhos... No seu lugar tem uns negros abafadores luzidios... Tento ignora-lo, mas instintivamente, informo: Quem está aqui na verdade, não sou eu... eu tou em Lourenço Marques a comer camarões tigre e a beber laurentinas e bem... Vocês sabem como é, agradecia que...
Aparece em cena o Russo, interropendo a minha divagação, e facilita um valente sopapo á figura com pernas peludas. Em seguida senta-se em cima do vampiro anão, tira-me o xito da mão e começa a fazer A Minha Ganza, cantarolando outra musica dos Faith no More – Di cheter on da men! No! Di cheter! No! No! Di cheter on da men! No! Di cheter... Bat idoseee! Ele fuma a Minha Ganza soprando o fumo directamente para a minha cara...Oiço risos... O meu cérebro comanda os meus lábios a articularem a frase ‘roda lá isso’ mas eles não obedecem... Então ele dá ordem á mão direita para alcançar o charro, mas ela diz que não lhe apetece. Sinto que estou num corpo que não me pertence. Os movimentos não fluem naturalmente... Sinto todo o meu Ser encoberto por uma camada de gordura com uma espessura de 20 centímetros... Como um esquimó que estranha o Anorak. O mexicano fala com o Russo amigavelmente e eu fico na expectativa que lhe esteja a relatar o meu pensamento... Oxalá... O Russo atira a beata para longe. Eu fico a olhar para ela a girar no pavimento e a ser atropelada por um fiat punto branco... Cabriolet... Depois vejo um gafanhoto gigante com uma pessoa na garoupa, reconhecendo-o imediatamente, mas sem saber de onde... Já sei! Ontem á noite numa rave. Na Ericeira, ya! É o Chiquinho... Ele apanha a beata, dá um bafo, olha para mim e acena a pata direita. Instintivamente retribuo o gesto, tentando sorrir, mas fracasso pateticamente... Queria falar com ele. Talvez até fumar uma com ele, qual cachimbo da paz, para me redimir dos maus tratos que infligi a centenas de irmãozinhos seus na infância...

Chorei. Os meus olhos choravam... Uma mão com a palma virada para cima surge no meu campo de visão, mas esta mão em particular, brilha... Tem 2 anéis em cada dedo e no seu centro vislumbro uns cristais amarelos que tremeluzem... Parecem grãos de açúcar mascavado, mas gigantescos... Como suponho serem doces, escolho O Maior e ponho-o na boca, mas é amargo e por isso engulo-o rapidamente. Não era um do-ceeeeeee...
aromanaabanaabananaeesganaaratazanaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
amicaelaflagelaamoelaeenfarpelaaberingelaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
ósenhordesfrutedochucrutediziaarutheeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee
Para tirar o gosto da boca, decido ir beber uma cerveja ao bar e levanto-me, mas a entrada do mesmo está barrada por dois gorilas vestidos á Dick Tracy que me perguntam algo... Eu ignoro-os, pensando que assim não me iriam comer. Está tudo enevoado, por isso tento chegar ao balcão do bar de olhos fechados, o que consigo, mas não facilmente. Peço uma cerveja, mas mudo de ideias quando ma trazem, pedindo antes um caixão á cova. A empregada diz que não sabe o que é isso, ao que respondo 1/3 de absinto, 1/3 de sumo de ananás e 1/3 de chantily no maior copo que tiver... Ela que ponha o que quiser no restante décimo. Surpreende-me, Vá... Passados 15 minutos a bebida aparece e apesar de já não me apetecer, bebo-a por consideração profissional. Fecho um olho, procurando caras familiares, mas só encontro vampiros, palhaços, anjos... o batmam e o zorro dançam ao som do Losing My Religion dos REM, um grupo de ciganitos saltita com os braços no ar e o Russo, apesar de ter uma faca espetada na cabeça, está encostado a uma coluna a falar na descontra com uma gaja bem boa... Olho com mais atenção e confirmo que a gaja é nota 10, mas tem um ar muito másculo... Dirijo-me a eles, brindo com o Russo a qualquer coisa e dou um apalpão na gaja. Tem um ganda grelo. Mas mesmo Grande. Ela dá-me um chapadão nos costacios e risse, dizendo: - Fodasse Lucy, tás todo fodido heim?
A voz da gaja assusta-me um bocado e recuo, tentando ampliar o rosto da babe com mais zoom... É mesmo feinha, mas tem força, a cabra... Deve gostar á bruta... Ela estende o braço peludo na minha direcção, segurando uma caixinha amarela... Hum... É um celular e por isso vou tentar trocar umas ideias com ele... Pergunto-lhe: A tua vida tem significado? Ele responde: Lucy,Lucy, coméquémeucabrãodocaralhotázaonde eeeeeeeee jghdughuerhurugheruhhheeuiw!!! Eu respondo: Não foi isso que perguntei, fodasse...

Cansado de tanto lufa-lufa á minha volta, sento-me um pouco a fumar um cigarro muito estranho.. É verde e não tem filtro. Sabe mal. Dirijo-me á casa de banho pronto a cuspir a qualquer instante.. Entro de repente no cubículo onde a pocahontas lambe o anûs do charlot e regurgito perante tal cenário... A minha Alma tenta escapar, enojada com os pedacinhos de cenoura e de ervilha e de batata envoltos num creme verde e pastoso que jorram da minha boca... Eu deixo-a ir, mas ela arrepende-se, afinal... Psicologia barata funciona, sem dúvida... Limpo a boca na manga do meu casaco e mijo. Quando saio, a pocahontas está a enrabar o charlot e estrangula-o com uma fita negra de um tecido rugoso. Eu tento passar despercebido e vou lavar as mãos. Lavo a cabeça também. O famoso mini-duche... No lavatório, a água está turva e as minhas mãos estão peganhentas de vermelho e de branco e de preto... Olho para o espelho e nele está um palhaço careca. Tem a cabeça completamente branca, enormes olhos negros e um sorriso vermelho sangue a rasgar-lhe a cara. Olho para trás. Não está ninguém. Levo as mãos em direcção ao espelho e vejo o palhaço a fazer o mesmo na minha direcção. - Quem és tu mano? – pergunto, sobressaltado.
- Sou o Joker. Venho de Gotham City. Viste o Batmam? Se apanho aquele cabrão, fodo-o todo caralho! – responde ele de olhos esbugalhados e com uma pronuncia americana muito forçada.
– Err.. Por acaso até vi, mas mano? Já levavas na peidola, orait? Essas cenas do Bem e do Mal, hã? Já chateia, caralho! – cuspo-lhe na cara e saio novamente em direcção das nuvens e das plumas e das rendas e das cabeleiras... Não consigo pensar em fazer outra coisa que não seja dirigir-me ao bar e pedir outro caixão á cova. A Barwoman dá-me um valente palmadão no ombro e pisca-me o olho para em seguida ir tratar do meu negócio. Outra gaja feia comó caralho, parece uma daquelas putas ranhosas que param nos cais de desembarque de mercadorias provenientes de outros continentes e que acabou de ser violentada por um grupo de polacos que não se vinham há mais de 3 meses, e, numa de judiação, vieram-se sincronizadamente para cima dela, cobrindo-a para toda a eternidade com uma película de meita de tonalidades amareladas. Quinze minutos depois traz-me a bebida e dá-me um cartão cheio de cruzinhas, o que me parece um acto de boa fé e por isso, aceito-o e agradeço profundamente. Cravo um cigarro a um troll e ele grunhe que não fuma. Então faço o mesmo pedido a uma coelha gigante mamalhuda que me cede amavelmente um ventil, roçando nos meus genitais, a cenoura que lhe pendia na boca... Deve ser uma cena de coelho, penso... Ela começa a jiboiar á minha volta num ritual que passado duas horas vim a saber que era de origem indiana, abanando o pompom do rabo na minha virilha como se fosse um espanador a puxar lustro a um castiçal murcho e indiferente. Sorri e diz para eu não me preocupar porque o Roger foi ao Casal comprar pó. Respondo que não estou preocupado e que já conheço muita gente... Os dentes dela assustam-me, imagino-a a trincar a minha salsicha com aquelas dentuças da maneira que o Bugs Bunny devora as suas cenouras... Não me parece... Vou acabar a minha bebida sentado num puff distante de todos, reparando na mudança de musica. Agora é mais tropical, mais caliente, mais samba, e tudo, mas tudo mesmo, é surreal: teias de aranha e caveiras e luzes bruxuleantes com o soundtrack do Carnaval do Rio??? Não me parece, não me convidem, não quero saber... Neste momento não quero saber de nada, não quero saber dos 3 porquinhos a dançarem com o lobo mau, não quero saber dos zulus de pele branca a beberem vodka com o lucky luke, não quero saber dos monges budistas a apalparem o capuchinho vermelho... Recuso-me a acreditar no que vejo. E principalmente sinto indiferença. E tédio. E ausência de fé... Deus não existe. Nem teve filhos. Já o Vi, mas recusei-me a Acreditar. Ele disse-me que não era a minha Hora. Disse-me para eu ir para o Escuro. Para o Espinhoso e Obrigatório Escuro... Eu respondi-lhe que se fosse foder e que me deixasse estar sossegado no quentinho com as minhas Quarenta Porcas. Ele sorriu. Simplesmente sorriu... E desde então passei a acreditar na Droga...

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